segunda-feira, 5 de março de 2012

Reflexões.

Às vezes eu fico olhando pela janela, vendo o horizonte poluído de São Paulo, imaginando o que acontece a minha volta.
Pessoas na rua, crianças chorando, carros buzinando, gente gritando, homens bêbados caídos pelos cantos das calçadas, músicas altas passando em carros velhos.
Eu queria poder controlar essas coisas. Eu queria poder controlar o que vai acontecer em seguida, quem vai morrer, quem vai nascer, quem vai se apaixonar por quem. Mas eu esqueço que não sou Deus.
Então, eu simplesmente desejaria fugir disso tudo. Fugir do mundo que me cerca, não do mundo em si. Queria fugir dessa época, queria estar em outro canto deste continente, queria ter outro nome.


Queria estar numa tarde de julho de 1965, no Tennessee, mais precisamente na cidade de McKenzie , vendo um caminhão de sorvete passando na rua. As crianças correndo até ele, eu andando pela calçada, alguém num dos quintais, estirado no jardim, escondido sob a sombra de uma grande árvore, lendo um livro qualquer. Eu então, chegaria até a entrada de minha casa, e sentaria no banquinho velho de madeira que tem na varanda da frente. Pegaria uma folha de papel e começaria a escrever, algo assim, como um conto pequeno, como tantos outros que já escrevi realmente. Eu então olharia para o rapaz estirado no jardim. Ele é John, meu vizinho, meu amigo de tantos anos. Ele sorriria para mim e viria até a cerca que intersepta nossas casas.
-Olá Claire. -ele diria.
Eu sairia do meio dos meus contos e diria oi também. John pularia a cerca e viria até mim, segurando seu livro. Vejo agora que o livro que ele antes estivera a ler era A Odisseia.
- Ainda não terminou o livro para a aula de Literatura, Johnny?
- Claro que não. É somente pra depois das férias!
- Eu sei, mas eu já terminei.
- Como sempre... Então, o que está a rabiscar tanto neste papel?
- Um conto.
- Que conto? Algum de sua autoria? - eu responderia que sim com a cabeça. - Posso vê-lo?
- Hum, realmente não sei. Será que... bom, não.
- Ah, Claire! Deixe me ler, me deixou curioso.
- Está bem, está bem. Não precisa fazer tanto drama. Eu lhe mostro quando estiver pronto, ok?
- Feito. - John ficou mais feliz.
Eu voltei a escrever, e ele a ler seu livro. O silêncio durou pouco, porque logo o vizinho pôs-se a falar novamente.
- Nossa! Me lembrei que eu tenho que ir na biblioteca hoje renovar este livro.
- Como você é esquecido. - disse, sem parar de escrever.
- Venha comigo até a biblioteca.
- Ah, eu estou ocupada.
- Claire, venha logo. Você termina essas suas reflexões depois! Venha comigo, por favor.
- Ai, tudo bem. Mas vamos logo. Tenho que voltar cedo, antes de papai chegar em casa.
- Tudo bem.


Fomos andando até a biblioteca, reclamando do calor, mas adorando ao mesmo tempo. O verão era a melhor época do ano, por causa do tempo, sempre quente, que permite as garotas encurtarem suas roupas, e aos garotos, se porem a delirar, mas também porque é a época de férias dos americanos.
 Chegando a biblioteca, encontrei Lizzy, minha melhor amiga.


-Oi Liz! Como vai?
- Olá pessoal. Estou bem Claire, como vai sua mãe?
Era o que todos me perguntavam quando me viam. Era sempre a mesma pergunta, e a mesma resposta:


-Ah, ela está melhorando, graças à Deus.
-Bom, eu tenho que ir fazer o jantar pros meus irmãos e meu pai. Acho que já estou atrasada. Tchau! Ah, mande lembranças à sua mãe.
- Sim, mandarei. Até logo Lizzy!
- Tchau John, tchau Claire.
- Tchau Liz - disse John que havia permanecido silencioso todo o tempo.
Me virei rápido e quase gritando, disse:
- Liz, venha amanhã a minha casa à tarde, ok?
- Pode deixar!


Me virei novamente para John, e sorri.
-Coitada da Lizzy. Desde pequena teve que assumir a casa, já que sua mãe os deixou. E ela tem uns irmãos muito monstros!
- Ah, não inclua o Tom.
- Ok, o seu amigo é o único não tão brutamontes quanto os outros irmãos da Elizabeth. Mas, ainda assim, ele joga no time de futebol americano! Ele é forte sim, todo gigante.
- Nem tanto vai, eu supero ele.
Eu comecei a rir.
- Você John? Capaz de eu ser mais forte!
- Ai Claire, deixe de ser boba! Isso é impossível, você é só uma garota e das bem magras.
- É, mas eu queria ver se fosse há alguns anos quando eu era maior que você e gorda ainda!
-Você nunca foi gorda! Por que menina tem que ser boba e se achar gorda a todo tempo? Oh Deus, quem compreenderá o sexo feminino?
- Como você é tonto. Vocês homens é que são complicados. Vamos!


Entramos  na biblioteca. Ginger, a secretária da biblioteca sorriu pra nós e enquanto ela renovava o aluguel do livro de Johnny, ela pôs-se a falar sobre a minha mãe, perguntar sobre ela e tudo mais. Eu respondi a mesma coisa que havia dito à Liz.
Saímos da biblioteca, nos despedindo da bibliotecária e empurrando a grande porta da biblioteca pública da cidade de McKenzie.
Era hora do sol logo se pôr e fomos andando rápido até nosso bairro. No meio do caminho paramos pra comprar um sorvete.
- Por que você sempre pega o de pistache?
- É o meu favorito, e também o de minha mãe.
- Bom, eu prefiro muito mais o de cereja.
- Hum, questão de gosto.


Fomos tomando o sorvete, olhando o pôr do sol, e conversando sobre tudo. Sobre como o céu estava bonito, como tudo estava mudando, sobre como foi legal os Beatles terem se tornado Membros da Ordem do Império Britânico no mês anterior, sobre o novo semestre que iria começar mais rápido do que imaginássemos.
Fomos andando assim, despreocupados com a vida, apenas dois amigos conversando.
Ah, eu pensei comigo... "Este verão vai ser o melhor de todos, eu sinto!".


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Nossa, acho que comecei um novo livro.


Ká Koezuka.

5 comentários:

  1. Este comentário foi removido pelo autor.

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  2. sempre fico imaginando enredos e histórias na minha cabeça, mas nunca parei pra organizar e escrever de fato uma história xD. Você escreve muito bem Kah =D

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  3. Ah, brigada Dee! Mas escrever é questão de treinar. Eu tb me pego imaginando diversas histórias, e eu tento escrevê-las em qlqr papel mais próximo. Vai que vira o próximo best-seller né? hahaha

    bjbj

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  4. lá vai a karina escrever outro livro que provavelmente nao terá final...

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